Wednesday 13 December 2006

Um momento de reflexão para cada um de nós

“Hoje sinto que sou todo esse lugar da experiência quotidiana de uma menoridade, um algo de menos que a definição implícita de condição feminina por esse mundo, fora, sistematicamente transcrita em violência sobre os seus corpos e as suas sexualidades.
Sou as mulheres filipinas que vivem na periferia de Manila, com sete filhos numa barraca, porque a sua própria paróquia lhe dizem que os preservativos e a pílula são pecados contra a graça procriadora que Deus lhes atribui. Sou a menina africana, a quem fazem uma excisão genital se saber da sua vontade, para que não caia na corrupção dos prazeres da sexualidade.
Sou as mulheres espancadas nas ruas da Argélia, por terem ousado mostrar os seus corpos e os seus rostos. Sou a nigeriana condenada a ser apedrejada até à morte, por ter tido um filho fora do casamento.
Sou as inglesas violadas no Algarve a quem o juiz português avisou, paternalmente, que deviam saber como se vestir e comportar.
Sou a lésbica italiana, insultada na Sicília porque ousa ter prazer com alguém que não um homem. Sou as mulheres agredidas pelos maridos, pais, irmãos: sou as 42 espanholas que morreram em 2001 vítimas de violência doméstica. Sou as mulheres de Leste que tentam escapar à pobreza e que acabam traficadas nas redes de prostituição que se estendem de Lisboa a Xangai. Sou a iraniana sem papeis na França, que faz trabalho doméstico para um patrão que a viola sistematicamente, chatageando-a com a expulsão.
Não. É mentira. Eu não sou, não represento todas as mulheres do mundo. Nas categorias do corpo que ordenam o poder, sou branca antes de ser mulher, e isso é todo um mundo de distância da vivência de mulheres negras. Sou nacional da União Europeia e isso faz toda a diferença em, relação as mulheres do Leste europeu. E, aqui dentro do nosso pequeno país, sou escolarizada e urbana, e isso parece deixar-me estranhamente longe das operárias de Castelo de Paiva que perderam os seus empregos. Afinal, sou apenas mais de uma das mulheres, de tantas, que colocaram essa questão: não sou eu uma mulher?

Sou. Sou uma mulher que nunca teve educação sexual na escola, ao contrário das holandesas; sou a mulher que não poderá ter três anos de licença de parto como as suecas; sou a mulher que não pode ter direito a aconselhamento no caso de uma gravidez indesejada, como as americanas;…”
Ana Drago,2004
P.S.Parece-me que o texto por si é motivador para pensarmos nas condições precárias em que muitas mulheres vivem. Mas mais que isso deve ser motivo para agirmos e para nunca esquecermos que há pequenos gestos, simples, fáceis que podem instituir pequenas mudanças. E pequenas mudança juntas resultam em Grandes Mudanças.

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